quarta-feira, 2 de maio de 2012

Essa brincadeira é de menina?

Daí que não é todo mundo que sabe mas, quando eu fiquei grávida achava que era uma menina.


Achava não, eu tinha CER-TE-ZA-B-SO-LU-TA que estava carregando uma ervilha feminina dentro do meu eu. E pra confirmar a minha loucura eu fazia todos os tipos de testes curandeirísticos espalhados por essa internet de meu Deus e só achava que prestavam aqueles em que o resultado era – MENINA.

A minha loucura ensandecida foi tanta que eu convencia todo e qualquer ser humano a minha volta de que ia ter uma filha mulé! E pra ser mãe de menina eu ia ter que começar a me comportar toda trabalhada na phyneza que Deus não me deu, mas que a Glorinha Kalil vende em forma de livro. Já tinha até me preparado pra comprar as roupas do balé e pesquisei aqueles pacotes de manicure mãe & filha, sabem?

O único que não entrou nessa loucura de baby girl foi o Beto. Ele foi o único do contra, que olhou bem pra minha barriga ainda não-barriga e disse: É outro menino. E num é que era mesmo? E ele e o Lucca fizeram comemoração estilo Xou da Xuxa na sala de ultra som (Menino, menino, menino!). Yes, humilhação na sala do ultra som, a gente vê por aqui.

Logo com 12 semanas o Theo já foi mostrando os documentos todos pra mãe dele parar com a palhaçada, e então eu dei adeus aos protetores de berço cor-de-rosa e olá para a Hot Weels; me despedi daquela menininha idealizada (a Nina) e dei olá pro meu filhote real e todo macho que crescia a cada dia.

O Theo nasceu, cresceu e hoje a minha vida é um misto de bolas de futebol, carrinhos, mamadeiras do Corinthians, cuecas do Ben 10 e aulas de Jiu Jitsu (que eu juro, ainda vou dar uma incerta numa quarta-feira a tarde qualquer pra ver aquela criatura fazendo aula de Jiu-jitsu).

Mas nem só de artes marciais e futebol vive a infância do meu filho porque o Theo também adora brincar de... COMIDINHA. Eu acho o máximo ele falar que vai fazer batatinha pra me dar, e fingir que mexe a panelinha de mentira. Nunca, jamais, em hipótese alguma eu repreenderia meu filho por ele querer brincar com algum brinquedo tido como feminino.

Mas tem gente que não pensa como eu...
Nesse final de semana estávamos no berçário do clube, local historicamente freqüentado por filhos e babás. Eu não deixo o Theo sozinho lá porque eu não tenho babá quando tem muita criança porque vira meio um salve-se quem puder e as monitoras não cuidam de ninguém porque estão ocupadas evitando que ninguém perca um olho em alguma brincadeira (menos Mariana, menos). Ontem era um dia que tinha muita criança.

O Theo assistiu um pouco de desenho, jogou bola e depois resolveu brincar na mini-cozinha montada no berçário. Falou que estava fazendo batatinha e bolo de Chicolate. Eu dando as orientações (Ai gente eu sou muito participativa né, quero botar ordem até na brincadeira!): “Isso filho, mexe a panela de batatinha, agora coloca o bolo de chicolate no forno, deixa a mamãe experimentar...” Enfim, a gente tava se divertindo um bocado, ele bancando o gourmet e eu impressionada com a capacidade de brincar de faz-de-conta do meu mestre cuca de 2 anos.

Até que ela apareceu, vamos cahamá-la de Felícia*(os nomes foram trocados para preservar a identidade dos envolvidos). Felícia é a chata do berçário, grita com as crianças menores, não quer dividir os brinquedos, belisca os colegas quando a tia não está vendo. Felícia tem 4 anos e está no berçário quase todos os dias, porque sua mãe faz ginástica e seu pai joga bola, então não sobra muito tempo pra Felícia que, de tanto ficar no berçário assumiu o topo da cadeia alimentar do local.

Felícia olhou bem pro Theo, olhou bem pra mim, respirou fundo, revirou os olinhos e disse:

- Ele é menino. Ele não pode brincar de comidinha.

Daí eu pensei: Cadê a mãe dessa menina minha gente? Que machismo é esse? Preciso providenciar um exemplar de “O segundo Sexo” pra dar de presente pra ela. É um absurdo criar meninas já com esse machismo desde bem pequenas, pra elas crescerem achando que lugar de homem é no escritório e lugar de mulher é na cozinha.

E enquanto eu pensava em levantar-me e perguntar pra tia do berçário quem era a mãe da Felícia, o Theo olhou bem pra cara dela e mandou:

- Eu posso brincar sim. O meu pai faz comida na minha casa.

E voltou a mexer a batata imaginária e a me oferecer pedaços fictícios de bolo como se Felícia fosse invisível.

Que Bevauir que nada minha gente, o negócio é dar o exemplo mesmo, pra criar Meninos e PRINCIPALMENTE meninas cada vez menos machistas!

E você, mãe de menino ou de menina? Já passou por alguma situação parecida? Como lida com as diferenças entre os gêneros? Deixaria sua filha brincar de carrinho e seu filho de boneca? Abre seu coração!