domingo, 24 de maio de 2009

Não é que eu vi o Silvio Santos?




Talvez se eu tivesse visto essas cenas alguns meses atrás não teria me abalado tanto... Mas sabe, o fato de ter um neném de cinco meses dentro da gente muda mesmo o modo de ver todas as coisas no mundo, todas mesmo, inclusive o Silvio Santos.

Tudo que envolve o Silvio Santos nesse país vira circo e acaba em pizza! O cara foi pré-candidato a presidente em 89, e eu corto o meu pau fora se ele não ganhava do Collor e ia transformar Brasília no Topa Tudo Por Dinheiro institucionalizado, nada muito diferente do que já acontece hoje em dia (aliás, apostar em tudo que NÃO é novidade é especialidade do Sr. Abravanel! Se tem uma coisa que o ex-camelô e detentor da dupla peruca+dentadura mais horrendas desse país sabe muito bem, é que a máxima do Chacrinha é a verdadeira lei de Lavosier na televisão: Nada se cria, tudo se copia).

Em 2001 um maluco tentou sequestrar o cara, ou uma das centenas de filhas dele, e até o Alckmin foi parar na porta da mansão no Morumbi pra negociar com o sequestrador. Tudo isso sendo televisionado, é lógico, até a fuga cinematográfica do sequestrador e sua misteriosa morte por asfixia quando a polícia conseguiu finalmente botar as mãos no cara.

Copiando descaradamente, o Seu Silvio resolveu elevar a condição de máxima estrela a menina Maisa Silva, vinda da periferia, de alguma cidade do ABC paulista e montada com roupinhas e cabelo identicos ao da Shirley Temple, a menina de repente tinha 3 programas de TV na mão, inclusive um quadro de entrevista só pra ela, e ainda uma paródia no Panico da TV, onde é chamada toda semana de monstro.

Crianças prodígio enfiadas na televisão antes mesmo de saírem das fraldas são comuns nos EUA, a própria Britney (de quem eu sou fã, mas acho que ela devia contratar o mesmo figurinista da Maddona pros seus Shows) é um exemplo vivo disso! Esteve na mídia a vida inteira, apresentava programa infantil do Disney Chanel aos 4 anos, e hoje aos 27 tem seus dois filhos, seus surtos ligados a cortes de cabelo e até sua ausência de calcinha transformadas em notícia pelo mundo afora.

A Maísa estava indo pelo mesmo caminho, e muita (muita mesmo) gente se irritava só de olhar pra cara dela, estampada exaustivamente em todos os programas do SBT. Mas nessas últimas semanas a menina chata e pentelha me comoveu, e como mãe que eu já sou, me derreti toda e me senti até culpada por não parar pra pensar que por trás do personagem que alguém inventou pra ganhar dinheiro, existe uma criança de 7 anos que nunca mais vai poder ter uma infância normal.

Meu enteado tem 7 anos, e ele gosta de Ben 10, de contar e inventar histórias, de brincar de caracol e de subir em árvore. Ele é uma criança normal, que está aprendendo muitas coisas na vida do jeito mais legal que existe pra se aprendeer, Brincando!

Quando eu vi a Maisa chorando e correndo pra mãe no programa do Silvio, a mãe fazendo sinal de que não ia acolhe-la, não ia pegá-la no colo e dar um beijo na cabeça que doía para sarar, imaginei o desespero daquela criança. O que fazer se a mãe não ia ajudar? A quem recorrer? Quanto vale um carinho, um abraço, quanto vale mostrar pro seu filho que ele é a coisa mais importante da sua vida? Pros pais da Maisa vale o salário que o Silvio Santos paga. E se ele paga ele pode tudo com aquela criança, ele comprou a menina e tem o direito inclusive de ridiculariza-la na frente do Brasil inteiro, a chamando de medrosa e fechando a conversa com chave de ouro, com a máxima machista: "Se continuar desse jeito não arranja marido".

Como diria o sábio Raul Seixas: Não é que eu vi o Silvio Santos? Sorrindo aquele riso franco e puro para um filme de terror...

Ainda não entendi como aquela mãe não voou no pescoço do Véio Abravanel, e tirou aquela peruca dele na base da porrada! Mas de uma coisa eu tenho certeza, pelo resto da vida ela vai se arrepender de não ter acolhido a filha naquele exato momento.



Foi um daqueles segundos que faz diferença na vida da gente, como no dia em que a minha mãe me autorizou a bater na Talita, ou como quando ela fez a minha fantasia pra eu dançar da 4a série e todo mundo tinha comprado. Cheguei lá diferente do resto e sabe o que ela me disse? Que eu era diferente porque era especial (abafa o caso de ter faltado grana pra fantasia no fim do ano). O que importa é que eu dancei toda importante, mesmo com todas as outras crianças reparando que eu era a única galinha do Saltimbancos com penas diferentes. Pra minha mãe eu era mais do que diferente, eu era especial! E ela nunca precisou me botar na televisão pra eu entender isso.