segunda-feira, 26 de abril de 2010

A hora da escolinha

Pronto!


Mochilinha do space cat nas costas, alguns brinquedos queridos, fralda, copinho (porque eu não gosto de mamadeira) hipoglós amêndoas e cobertorzinho... Cheguei no meu primeiro dia de escolinha e não quis beber o suco, mas rolei pela sala de estimulação, puxei o pé da Gabriela (que tem 5 meses e é uma chorona) e até dormi no colo da tia.

Eu nem chorei, minha escola é lega pra caramba!

A minha mãe sim, chorou! Acho que ela tinha que ser amiga da Gabriela... Vai entender essas mulheres viu...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vai tomá no SUS!


Devido ao meu já divulgado medo de chegar resfriada ao hospital e ter a perna direita amputada por um médico boliviano numa maca de corredor, evito freqïuentar emergências.
Quando o Theo nasceu tive que superar o medo, já que ou tinha uma parto Juma do Pantanal domiciliar, ou ia pra maternidade. Claro que ameacei o Big de morte caso ele se afastasse de mim durante o trabalho de parto.
Vocês bem sabem que tudo correu bem nas breves 14 horas de trabalho de parto, o Theo nasceu forte e saudável, fez amizades no berçário da maternidade e eu saí de lá andando com as duas pernas! Como pessoa que ainda crê na humanidade, tive que dar o braço (e as pernas) a torcer: Emergência de hospital não era uma coisa assim tãaaao ruim.

Não pestanejei então quando a pediatra do Theo indicou uma médica da Sta Casa de São Paulo pra dar uma olhada nos rins dele. Marcada a consulta fomos eu e minha cria lá pra Sta Cecília, no final da rua da consolação. O Theo todo brejeiro com calça cargo branca e body azul e caramelo, eu de salto alto.
Chegamos no lugar, e, mais uma pra série perdida em São Paulo, eu não sabia onde a médica ia atender a gente.

Nessas horas eu paro por uns momentos de acreditar que a humanidade deu certo! Estava eu com um bebê de nove quilos em uma mão, uma bolsa de uns 10 na outra e ninguém, nenhuma vivalma pra me oferecer ajuda! Beleza, sou mulher pra caralho, o suficiente pra ficar perdida de salto alto, no paralelepípedo com o Theo no colo.

O lugar era enorme, tinha muitos prédios, muitos carros e seguranças que não sabiam dar informação. Chaguei numa capela com o dedão já formando bolha na abertura do peep toe, e achei um transeunte que me apontou vagamente a direção do prédio de especialidades pediátricas. O Theo enquanto isso achava tudo muito legal.

Entramos no prédio, antigo, muito antigo, com escadas demais pra ser um hospital pediátrico e eu vi que meu pesadelo com o médico boliviano era fichinha... A sala de espera era um salão gélido, com bancos de plástico daqueles rodoviária anos 80, que eram insuficientes pra tantas mães com seus bebês e crianças. Uma televisão de 19 polegadas dentro de um quadrado de grades dava o toque final da decoração branco-suja do salão. Cheguei na recepção e falei que tinha hora marcada com a Dra. Fulana. A recepcionista era até esverdeada de tão funcionária pública. E qual não foi minha surpresa quando a mulher verde abriu a porta e mandou que eu entrasse no hospital e procurasse a médica! Quando eu perguntei onde devia procurar ela respondeu: Se vira. SE VIRA! vaca! mal comida! verde! como assim???

Bom, a consulta estava marcada, eu já estava lá e ela já tinha aberto a porta do corredor pra mim. Passei por uma rodinha de medicas e enfermeiras que olhavam animadas um catálogo da AVON enquanto na espera bebês berravam. Perguntei pela doutora fulana mas, e foi aí que eu percebi, assim que passei por aquela porta sem um jaleco branco eu ficara invisível, inaudível, eu era inexistente.
 Continuei até virar a esquerda e dar de cara com uma outra médica, sorridente e aparentemente mais solícita a me dar informações. Engano meu, Ela falava ao celular com alguém que aparentemente estava fora do país enquanto uma mãe que me parecia muito sozinha e preocupada segurava um bebê de mãozinha enfaixada.
Nesse ponto eu tive certeza de que a raça humana foi resultado de um sério acidente laboratorial!
Eu já ia continuar o meu tour de cortar o coração quando fui abordada por uma médica (ou residente, ou estagiária???) extremamente jovem que após analisar as vestimentas do Theo, que ainda achava tudo muito legal,  me disse com propriedade: "Eu acho que vocês estão no lugar errado".

Você acha gata? Eu tenho certeza! Nós estamos no lugar errado! No país errado! No mundo errado! Quando foi que ter o coração arrancado cirurgicamente virou pré-requisito pra ser pediatra do SUS? e porque você tinha tanta certeza que nosso lugar não era lá? Porque eu era uma mãe branca, com um bebê branco que aparentava morar em uma casa com saneamento básico?  Não que aquilo tudo fosse novidade pra mim, que esse país é injusto, desigual e sacana todo mundo está careca de saber, mas é tão cruel quando você está com o seu filho no colo e tudo te dá as costas. Me coloquei no lugar de cada mãe naquele prédio, sentada naquela sala suja olhando praquela vagabunda da recepção, ou num consultório de alguma recém-formada que vai tratar seu filho como se fosse um animalzinho sem dono... Em outros tempos me daria vontade de gritar, ligar pra imprensa, tirar satisfação com o diretor do hospital... mas naquele dia eu só senti foi uma tristeza muito grande e, por incrível que pareça, uma culpa muito grande quando aquela mesma gênia que chegou à conclusào de que eu estava no lugar errado me levou até a clínica onde eram atendidos os pacientes que pagavam a consulta.

Tinha elevador, água, cafézinho, TV de plasma e as recepcionistas eram uniformizadas e bem alimentadas. O Theo foi atendido na hora certa, e na saída o segurança já esperava a gente com o táxi de portas abertas.
Ah, detalhe, fui informada no caminho de que não se marca consulta na Unidades do SUS de especialidades pediátricas da santa Casa de São Paulo. Lá pra ser atendida você e seu bebê precisam exercitar desde cedo seu direito sagrado no Brasil de ser feito de otário, ou seja, chegar cedo, muito cedo, acampar na fila no sereno com um bebê de colo para, quem sabe, conseguir depois de 6 horas encontrar a médica no labirinto que é o corredor da pediatria. Antes, é claro, que comecem as consultas particulares agendadas pelo especialista.

Já dizia o saudoso Renato Russo: A humanidade é desumana!