sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O Bullying nosso de cada dia

*Atenção, esse post contém palavras de baixo calão e cenas de total descontrole emocional. Não digam que eu não avisei... Como já é de conhecimento público e notório de todos os meus leitores, eu fui uma criança muito sacaneada na minha infância. Mas gente, não tinha outro jeito né. A pessoa tinha 9 anos e já tinha lido a coleção inteira do Monteiro Lobato, discutia política com o pai na hora do Jantar, era a única criança da escola (pública) que fazia aula de inglês e passava mais tempo na biblioteca do que no pátio. Eu era nerd, eu era geek, eu usava óculos e eu tinha muitos apelidos. Na minha época não existia essa história de bullying, mas eu fui o exemplo vivo de todo tipo de bulinação possível! Eu apanhei da Talita, quando o estojo made in Paraguay da Juliana Martins apareceu quebrado colocaram a culpa em mim, na minha adolescência tinha até um grupinho de meninas que ficava ligando na casa dos meus pais e fazendo várias ameaças... Sério, até o dia em que eu pedi pra minha mãe pra mudar de escola. Lembro como se fosse ontem que sacanearam todo o meu material na hora do recreio e ficavam mandando bilhetinhos com piadinhas, apelidos, ameaças... Era tenso, tão tenso que um dia eu não aguentei mais e arreguei. Pedi pra sair. Meus pais, assustados e surpresos com a minha reação, porque afinal de contas eu NUNCA tinha contado sobre o que estava acontecendo, resolveram conversar com a escola e cobrar dela providências. Depois disso todos os meus algozes pararam de me bulinar, um deles até me pediu desculpas, e eu continuei na mesma escola até sair do ensino médio. O tempo passou, eu desenvolvi severos traumas e problemas mentais, tornando-me uma piadista crônica, afinal de contas a pessoa que passa anos da sua vida sendo motivo de piada alheia, percebe que a melhor solução é se antecipar e fazer você mesma a piada consigo própria, entenderam? Esse blog é culpa do bullying minha gente! (menos Mariana, menos). Agora, uma coisa é lembrar dessas (muitas) situações pelas quais eu passei, e que não foram legais, mas que fazem parte da minha história e que hoje são exemplos de superação e posts no blog. Outra coisa é quando acontece com um filho. Aí esse blá, blá, blá sobre exemplo, superação e post de blog vai pro saco e a gente quer é ver sangue! Sangue da criança cretina que sacaneia seu filho, sangue da mãe do cretino (que deve ser uma cretina também), sangue do pai cretino, dos avós, sangue até do porteiro do prédio do cretino. Eu já tinha começado a desconfiar que tinha alguma coisa errada com o Lucca quando, no meio do ano, às vésperas de uma prova de geometria, ele me liga desesperado dizendo que estava sem compasso, régua, transferidor e esses instrumentos de tortura todos usados em provas de geometria. Ao que eu respondi “Má Cuma tá sem gente, se a pessoa que vos fala foi na 25 de março debaixo de solquente comprar lista de material COM-PLE-TA no começo do ano? Vai dizer que perdeu?”. “Não perdi Mari, meu amigo quebrou”. Mui amigo. Um cretino, vai vendo. Fiz ele confessar, sob tortura envolvendo o sequestro dos controles do vídeo game, o nome do cretininho que tinha quebrado as coisas dele. Para preservar a identidade dos envolvidos vamos chama-lo de Paulinho, Paulinho Maluf (porque tá pra nascer cretino maior que esse, vamo combiná). maluf Fomos até a escola e caguetamos toda a cretinice de Paulinho Maluf, cumulada com o pedido de um novo material de Geometria às custas de Paulo Maluf, o pai. A escola disse que iria se comunicar com o pai da criança sobre o ocorrido. E nada. Até que chegou o dia do encerramento da Olimpíada da escola. Eu já tinha comentado com o Beto que estava achando o Lucca pouco animado com as atividades de esporte, e nada estimulado com a Olimpíada, diferente de anos anteriores. Ele nem queria ir ao encerramento, mas como valia nota eu obriguei a criatura a comparecer, porque na minha casa não rola democracia quando o assunto é nota (e porque já basta um membro na família ter ficado de recuperação em Educação Física, nesse caso eu, nerd, na escola também conhecida como Sapona, Maria do Bairro, Chiquinha, Zumbi da biblioteca, Lalá Nazira, entre outros apelidos que convém não comentar). Decretei que ele ia ao evento e acabou! Tinha que ir de camiseta da cor da bandeira da equipe. No caso azul. Peguei uma Pólo azul comprada na nossa já comentada viagem aos EUA e deixei separada em cima da cama. “Mari, acho melhor eu não ir com essa camiseta. Me ajuda a escolher outra?”. Já disse isso e foi abrindo a gaveta e tirando todas as camisetas de dentro, revirando tudo, amassando toda a roupa passada. É um mal que atinge aos homens da família. É impossível conseguir pegar alguma coisa em uma gaveta sem bagunçar todos os outros itens que continuam lá dentro. Tragédia. Eu já ia começar a dar o meu piti por conta da gaveta quando realizei “márrr num quer ir com essa camiseta por quá?”. Ao que ele responde “então Mari, é que nessa camiseta tem a marca, e quando eu vou com roupa de marca na escola o Paulinho Maluf e todos os amiguinhos dele ficam dizendo que eu to com roupa falsificada, me chamando de ridículo entre outras coisas”. Pronto. O sangue subiu, eu já comecei a proferir a minha vasta lista de palavrões contra Paulinho Maluf e todos os seus parentes até o 3º grau, chamei o Beto e já queria planejar um sequestro na porta da escola. O pior era que Paulinho tinha sido amigo do Lucca, até já tinha ido dormir lá em casa uma vez. E por isso nós tínhamos o numero de telefone do pai de Paulinho. Rá. “Liga agora e manda ele a merda” foi a primeira coisa que eu disse pro Beto. Ele ligou. O cara não atendeu. “Liga de novo e deixa uma mensagem na caixa postal mandando a merda”. “Mariana, você tá louca? Desde quando mandar a merda vai resolver o negócio do Bullying? Talvez os pais dele nem saibam que ele anda agindo dessa forma, tem que primeiro conversar.” Olha só, que marido sensato gente. Tá certo, tem que conversar. Eu já ia logo partir pra ignorância que filho meu não vai ser sacaneado na escola por Paulinho Maluf, nem por ninguém. No final o Beto deixou uma mensagem super educada na caixa postal de Paulo Maluf Pai, dando o número do celular dele e dizendo que queria conversar sobre algumas situações que vinham ocorrendo na escola. PHYNO esse marido né. Contextualizada toda a história, eu já estava querendo procurar outra escola, porque a atual não estava compensando pelo custo/benefício que vinha oferecendo. E ainda com Paulinho Maluf aprontando as dele, comecei o processo de buscar outra escola que atendesse tanto ao Lucca quanto ao Theo, que daqui há 2 anos vai estar no primeiro ano. Depois de muita pesquisa (que vale até um outro post logo logo), encontrei. Fui com o Lucca visitar e ele adorou o clima, o lugar, as pessoas. Pronto, escolha feita, avisamos na escola anterior e ele, com o final das aulas e sem ter ficado de recuperação (pausa pra dancinha da vitória), começou a se despedir dos coleguinhas e professoras pelo facebook. “Professora Selma, foi muito bom ser seu aluno, mas estou te escrevendo pra te dizer tchau, pois estou mudando de escola. A gente se vê. Um beijo do Lucca”. PHYNO igual ao pai né. E lá estava eu, na secretaria da escola nova, tendo que discutir com a funcionária que não queria me deixar assinar o contrato de matrícula do Lucca porque né, afinal de contas a pessoa não é mãe né (madrasta sofre... Nessas horas eu muito cogito fazer um RG falso pra ele com o meu nome como mãe. Me julguem). Enquanto isso o Luca mexia no facebook pelo smart fone. Como resposta à mensagem de despedida que ele havia deixado pra professora, Paulinho Maluf escreveu “Já vai tarde Lucca, ainda bem que você não vai mais estudar comigo, a sala vai ficar menos fétida no ano que vem”. Não tive dúvida, peguei o celular, disquei, e esperei cair, de novo, na caixa postal. “Paulo Maluf pai, aqui quem fala é a madrasta do Lucca, estou te ligando pra mandar você à merda. Acho que você já sabe por que”. Desliguei o celular e abri um sorriso pra secretaria da escola nova, que ao notar o quão descontrolada dedicada ao enteado eu era, achou por bem permitir que eu assinasse o contrato como responsável. Sensata essa secretária. Voltei pra casa com o Lucca no carro, contando pra ele todas as histórias de bullying que eu já tinha vivido, ou presenciado. Expliquei que sempre fica mais fácil resolver a situação quando falamos com nossos pais sobre o que está acontecendo. Foi o único jeito de resolver o meu problema, e ia resolver o problema dele também. Algumas horas depois... Estamos todos em casa comendo pizza, enquanto o Theo dança a música de abertura de “Dora, a aventureira” no meio da sala como se não houvesse amanhã, e o Lucca filma tudo com o celular já pensando em divulgar o vídeo quando ele for adolescente. O celular do Beto toca. “Alô, oi sou eu sim. O que? A minha esposa ligou pro seu celular e disse o que?” Tomei o telefone da mão do Lucca e mostrei o print da tela em que Paulinho Maluf fazia facebullying com o Lucca. Beto foi ficando vermelho, roxo, fúcsia! “Olha aqui Sr. Paulo Maluf, a minha esposa estava coberta de razão. Vai à merda. Passar bem”. Fecha a cena com todos dançando “Dora, dora, dora aventureiraaaaaaaaaaaa” como se não houvesse amanhã.