sábado, 19 de dezembro de 2009

A mãe e o GPS


Às vezes nós subestimamos a velocidade com a qual uma criança é capaz de ficar traumatizada. Pense na sua infância, ou melhor nos seus traumas de infância e veja quão singelas foram as situações que os causaram.
No meu caso por exemplo, bastou tomar um caldo, seguindo de um rola na saudosa praia da Sununga em Ubatuba (onde caiçaras surfam em "aspirinas", o que é muito legal de se ver quando você não acabou de engolir 6 litros de água salgada e perdeu a parte de cima do bikini na frente dos amigos do seu irmão). Pronto! Trauma de mar.
Depois teve o clássico filme "Conta comigo", no qual uma turma de meninos sai a procura de um outro menino, e na ausência de qualquer adulto responsável acampa no meio do mato, conta histórias de terror nojentas sobre gordos que vomitam, encontram o menino morto na linha do trem e no final, já todos adultos, descobrimos que os amiguinhos morreram e o único que sobrou foi o cara que contava histórias de terror de gosto duvidoso. Fobia de linhas de trem. Outro trauma.

É tão fácil traumatizar uma criança que a gente quase nunca se dá conta.
Como na vez em que Mr. Big tinha que fazer um trabalho da pós, e Little Big e eu voltamos sozinhos da casa de VacaPri. A gente só tinha que atravessar a ponte estaiada (para LB é a ponte Estrelada), achar o estádio do Morumbi e ir pra casa ouvindo Edson Cordeiro cantando Bee Gees (não subestimem o gosto musical de Litle Big). Mas não... Eu não era intelectualmente capaz de achar o caminho de casa após deixar o MEU Big indefeso na casa de VacaPri, a mulher que ligou 12 vezes no celular dele quando soube que nós estávamos namorando. Fora o fato de que chovia granizo, eu estava com o carro do meu cunhado, e Litle Big insistia em pular sobre o câmbio do carro pra por "repeat" no Bee Gees.

Em alguns minutos eu estava perdida. Numa avenida grande, que tinha outra avenida grande do lado nas margens de um rio que começava a transbordar fazendo com que carros e caminhões lançassem cocô nas calçadas. Eu estava perdida, com o carro alheio, no meio da enchente de dejetos de são Paulo com um menino de 7 anos recém completos. E BIG ESTAVA NO APARTAMENTO MA-RA-VI-LHO-SO DA VACAPRI! Ok, nada podia piorar a situação certo? Eraado. Eu entrei em pânico! No fundo acho que foi tudo culpa do edson cordeiro. desliguei o rádio enquanto me perguntava em voz alta "Onde eu tô caralho? Ai meu deus me perdi com Little Big, o Big vai me matar! Tomara que essa água não suba mais. Onde eu tô???????"

Após ouvir todas essas palavras de conforto, Little Big respirou fundo e fez o que seu pai faria. Assumiu o controle da situação!

"marinha, eu sei onde a gente tá, meu tio trabalha aqui ó"- apontando a editora onde trabalha o titio boa pinta. Estávamos na marginal pinheiros. Ótimo, bom começo. Fiz o único caminho que eu sabia. Fui até meu antigo apartamento na Vila Madalena, e voltei pro morumbi. passamos por várias ruas alagadas enquanto eu tentava fazer little Big encarar aquilo como a maior aventura do mundo.

E assim ele ficou traumatizado. Andar de carro comigo é sempre, desde aquele fatídico dia, um momento de pura tensão! Essa semanas voltamos do oculista só nós e o Theo.
A cada minuto ele me dava um boletim visual imitando a careta do Ervilho na caderinha. Se passaram 20 minutos até que Little Big reuniu toda a coragem que um menino de quase 8 anos pode ter e perguntou: Mari, você tá perdida de novo? Porque eu sei onde a gente tá. Tá pertinho da nossa casa tá, não precisa ficar com medo não.

Pronto. E assim eu consegui fazer com que Little Big adquirisse um senso de localização invejável, uma ótima visão periférica além da enorme capacidade de ler placas de ruas e avenidas em São Paulo. Tudo isso vendo pelo lado bom. Do ponto de vista mais realista, serão anos de terapia pra superar o trauma que eu causei.

Portanto se você é mãe, madrasta, tia, tem amigas com filhos ou simplesmente é nó cega no trânsito paulistano em São paulo como eu, não arrisque gata, compre um GPS.

Vale o investimento agora pra não ter que gastar com o analista depois!

10 comentários:

Diane Lorde disse...

Penso todos os dias em adquirir um GPS, o único medo é me perder mesmo de posse do objeto ai realmente seria o final dos tempos, porque como costuma dizer meu japamarido eu me perco até em linha reta. É que não sei se estou indo ou vindo..rsrs

Isis disse...

Seus textos são incríveis! Parabéns!!

Rafa R. disse...

hahahaha ótimo texto...
só corre o risco do GPS ficar.. recalculando, recalculando... rs
Bjo

Dani disse...

Rs
Valeu a dica. rs

Aproveito a oportunidade para deixar aqui votos de um Natal mágico para você e um ano cheio de saúde, sucesso, amor, grana e muuuuito sexo gostoso (quem precisa de mais, né?).
Fiz um mimo para os amigos. É pouco, eu sei, mas está repleto de carinho. Dá uma olhadinha:
http://i996.photobucket.com/albums/af90/PontoRouge/2010.gif

beijo rouge

Dani

Camila disse...

Ai, Meu Deus... será que foi por isso que ganhei um GPS do meu noivo??? rs...

Querida... texto divertidíssimo!!! Aproveito para te desejar um 2010 repleto de muita saúde, paz, amor e inspiração!!!

Beijos

dannah5 disse...

Ahh, so agora que eu vi, estava totalmente tomada pela avalanche de fim de ano! Feliz ano novo pra vcs! :D

Olha, seu filho eh o maximo e eu entendo ele perfeitamente, eu tinha uma mae q vivia batendo a traseira do carro em poste, nem preciso dizer que passo longe de carro e dirigir nunca foi um sonho meu, fico feliz em ir de taxi! hehe Agora, no seu lugar quantas conseguem ficar numa boa? Marido na casa da ex? Por mais que a gente confie no nosso taco, acaba tremendo na base que nem vara verde de bambu!

Traumas a parte, eh engraçado ver como eles raciocinam as vezes, ne? Aqui eu ja entrei em panico tbm, a de 4 me consolou, olha q vexame, a de 1 caiu de boca no chao era sangue q nao acabava mais, eu com ela chorando no colo( eu e ela choravamos), marido tinha saido pra comprar a maledita coca cola dele e a de 4 enxugando minhas lagrimas e dizendo, vai ficar tudo bem mamae, eu to aqui...

um desastre!hehe

beijocas pra vcs!

Azedinha Doce disse...

Olá... Adoro o seu blog... E passei para convidar a visitar o meu:
http://benditoentreasmulheres.blogspot.com/
É um blog com conteúdo adulto mas sem vulgaridade... O blog que nós mulheres pedimos a Deus. É um colírio para os olhos. É a vingança feminina ao fruto de todos os nossos pecados. Lá as boas garotas são más...
Apreciem sem moderação... Beijinhos

(6) capreta disse...

tenho problemas com o tchuck. aquele boneco malefico.

Sâmia disse...

Tô com dó dessas crianças, Sol...
Beijos!

Unknown disse...

Traumas,traumas... eu empurrei minha irmãzinha num poço quando ela tinha três anos... até hj ela não consegue aprender a nadar (o meu trauma daquele dia foi uma tia desgraçada que falou que eu era uma assassina prq tinha tentado matar minha irmã. Pô, eu só tinha seis anos!!!
Bjs , ótimo blog