Daí que o Theo foi promovido! Do berçário pro mini-maternal antes de fazer 2 anos ou sair das fraldas. Hoje foi o primeiro dia que deixamos ele na escolinha pela porta dos maiores e eu já fiquei emocionada, com lágrimas nos olhos, pensando que o tempo passa muito rápido e daqui a pouco ele tá na faculdade agora ele ia ter as atividades, não ia mais poder tirar a soneca, nem ia ficar com as berçaristas que conhecem ele desde que ele tinha 7 meses, que não ia mais ver os coleguinhas bebês...
Preciso falar que eu quase desisti de deixar ele na escolinha o trouxe pro Banco? Pois é, mas meu marido é um Pai consciente e afirmou que tava mais do que na hora dele ser promovido, afinal de contas ele já tava ficando irritado com a Rotina do berçário (ou seja, mamar, dormir e trocar de fralda). E emendou ainda que talvez essa mudança tenha alguma coisa a ver com o fato dele ter mordido a Gabriela 2 vezes em 2 semanas.
Pronto. Tocou no ponto, e agora eu tenho que voltar um pouco no tempo pra contar que sim, é verdade, o Theo mordeu a Gabriela, a mesma caipirinha das fotos, o que me leva a crer que o namoro dos dois vai bem ao estilo novela Mexicana...
2 semanas atrás...
...Ninguém sabe direito o que aconteceu, a Tia Helena me disse que foi trocar a fralda do Gabriel e quando voltou o Theo já tinha mordido a mãozinha da Gabi. Fui buscá-lo na escolinha e ela me contou que tava de mal dele porque ele tinha mordido a amiguinha. O Theo ouviu toda a narração do fato de cabeça baixa e beiço derrubado.
Botei ele na cadeirinha do carro já pensando. “Ferrou! Eu não entendo o suficiente de psicologia infantil pra explicar pra um bebê de 1 ano e 10 meses que não pode morder a amiguinha. Comé que eu faço? Mordo ele pra ele ver que dói? Ligo pra minha mãe? Ligo pra Super Nany? Ligo pra mãe da Gabriela e peço desculpas? Sento e choro?” . No caminho de volta pra casa eu fui cogitando todas essas possibilidades, e cheguei à conclusão de que a única solução era conversar com ele, mesmo tendo certeza de que em muitos momentos eu ia parecer a professora do Charlie Brown!
Desci ele do carro e comecei:
- Filho, a mamãe sabe que você mordeu a Gabriela hoje, mas não pode fazer isso! Ela é sua amiga (não, eu ainda não admiti o namoro), e a gente não morde os amigos, nem os inimigos! A gente não pode morder ninguém! Isso é muito feio! A mamãe não quer mais que você morda a Gabriela, vocês têm que brincar junto, igual você faz com a mamãe. E amanhã você vai pedir desculpa pra Gabi, vai dizer, “Gabi, desculpa, a gente é amigo”. Tá bom filho?Não pode!
Agora o que o Theo entendeu:
- Filho, a mamãe blá blá blá mordeu a Gabriela blá, blá não pode blá blá blá! Blá blá amiga (não, blá blá blá blá blá), e blá não blá blá amigos, blá blá blá! Blá blá não pode morder blá! Blá blá blá feio! A mamãe não quer blá blá blá blá Gabriela, blá blá blá blá blá, blá blá blá mamãe. E blá blá blá blá Gabi, blá blá “ Gabi, blá blá blá blá blá”. Blá blá filho?Não pode!
Resultado da aplicação da minha psicologia infantil: O Theo passou o dia seguinte inteiro fugindo da Gabriela, não queria chegar nem perto dela! Não brincaram juntos, nem compartilharam mamadeiras e nem se abraçaram. Acabou a amizade/namoro! Fim! Porque, afinal de contas, tudo que ele entendeu do que eu disse se resumiu à seguinte frase: Gabi, filho, não pode!
A tia da escolinha achou que eu peguei meio pesado (porque eu fiquei a noite inteira e a manhã seguinte repetindo tudo isso pro Theo) e a Gabi também achou que eu peguei pesado! Ficava correndo atrás dele, tentando abraçá-lo a força, pulando em cima dele pra chamar atenção até que... ELE MORDEU ELA DE NOVO.
Pausa dramática nesse ponto da história: GENTE, EU NUNCA ACHEI QUE O MEU FILHO FOSSE MORDER UM COLEGUINHA! Afinal de contas, eu até já contei isso aqui, EU era a vítima dos valentões quando era criança. Eu sempre fui mordida! Nunca mordi! Por algum motivo cósmico que foge do meu alcance o meu filho resolveu mudar de time, e sei lá, acho mais fácil lidar com a situação quando o filho da gente é a vítima, o bonzinho, o injustiçado, que um dia irá resolver defender os fracos e oprimidos, fundar uma ONG e contar todas suas humilhações infantis em um blog!
Agora falando sério, o fato é que é muito difícil lidar quando se está do outro lado, quando é o seu filho quem mordeu/bateu/chutou/empurrou/tomou o brinquedo ou qualquer outra coisa que a gente acha muito feio uma criança fazer. E eu confesso que não está sendo fácil lidar com essa fase do Theo, ele anda querendo distribuir tapas lá em casa e até já me mordeu uma vez!
E não adianta fazer de moderninha, a gente sempre acha que a culpa é nossa! Que não estamos dando atenção suficiente, que a criança está violenta porque não nos tem 24h por dia ao lado dela, e que portanto merece mais carinho/atenção/colo/brinquedos/vontades satisfeitas nos momentos em que a mãe está presente.
E eu particularmente acho esse caminho muito perigoso! Porque as frases aí de cima representam pura e simplesmente uma mãe tentando justificar o mau comportamento do filho. E o pior, se anulando pra isso! Anulando a educação que está dando, a correria toda pra trabalhar e ser mãe, culpando a si mesma ao invés de admitir que o filho fez uma coisa errada e deverá sentir as conseqüências. A vida é assim, o mundo é assim! Não é o fato de trabalharmos fora que leva algumas crianças (como o Theo, ui! Doeu) a morder outras! Ou na época das nossas bisavós crianças eram anjos que só mordiam alimentos? NÃO MESMO GATAS!
É duro admitir (muito duro) mas nossos filhos fazem coisas erradas. E ponto. Porque crianças aprendem assim, testando limites, num jogo eterno de tentativa e erro, e a culpa nossa de cada dia só nos faz entrar perdendo na brincadeira.
Feita toda essa reflexão, eu dei outra bronca no Theo. Ele chorou sentido porque eu fiquei muito brava, brava mesmo, com a segunda mordida na Gabi!
E eu chorei sentido também naquela noite (escondida no banheiro e sem borrar o rímel), pois não é fácil olhar nos olhos de um bebê e sentir que ele ficou magoado com você! Não é fácil passar as poucas horas do dia que restam na companhia do nosso filho dando bronca! Não é fácil dizer que o que ele fez foi muito feio! Não é fácil dizer não...
Mas, enfim, quem foi que disse que seria fácil?
Já aviso que após a última bronca o Theo não mordeu mais ninguém (a Gabriela agradece), e u estou só preparando meu repertório e meu coração mole pras próximas broncas que virão... Ah se virão!