Foto Vincent Kessler, Reuters
Na foto, congressista dinamarquesa vota com a filha em cima da bancada do parlamento! Já pensou aqui no Brasil! A gente já aproveitava e jogava a fralda cagada no Sarney!
Deixamos o Theo na Escolinha e ele olhou pra gente e fez beicinho. Pronto! Virei pro Big e disse:- Será que não é melhor voltar pra casa, ele tá chateado! Vou vir buscar ele as 6 e ele vai estar chamando a cozinheira da creche de mãe!
Não colou!
Fui trabalhar com o característico nó na garganta que é item de série de toda mãe, e um letreiro piscando CULPA em letras garrafais na minha testa, mas esse é privilégio de mães que trabalham.
Cheguei no pico e não poderia ser mais estranho, a empresa mudou de prédio enquanto eu estava de licença, portanto além de voltar ao mundo real eu ia ficar perdida na balada, de salto alto e sem o Theo. Ó céus. Achei até esquisito andar por aí sem ele a tira colo, bolsa cheia de badulaques, blusa babada e cantando músicas inventadas por mim mesma, tais como:
"A minha mãe é assim
O amor do neném
E eu fico carrapatinho
E não enxergo mais ninguém"
cantada em ritmo de forró e com coreografia elaborada com jogadinha pra frente (ele adora, um dia eu tomo coragem e posto outras pérolas da música infantil criadas por mim mesma). Apesar de estar sem ele tive umas 3 alucinações com choro de bebê ao longo do dia, além de continuar com a mão cheirando a hipoglós.
Cheguei no andar da minha área e em menos de meia hora todo mundo já tinha visto umas 15 fotos do Theo, em todos os ângulos, e concordado que a Jhonson's Baby tá perdendo muito dinheiro sem o bebê mais fotogênico do mundo em seu casting. Contei sobre a escolinha e como sobre ele já é uma criança de personalidade, cujo passatempo preferido é relaxar na piscina de bolinhas e arrancar o brinco da Tia Socorro (que é berçarista e não deveria trabalhar com um brinco tão grande).
Falei do cocô, da hora do banho, da papinha, de como ele brincou com a terra e nem quis comer, mas quis jogar a caca na cara da mamãe pra ver o que acontecia. Falei um pouco de trabalho mas logo lembrei dele de novo, e do cheirinho, da mãozinha segurando meu queixo. Entrei no banheiro e chorei de saudade.
Chorar no banheiro é assim, um hobby!
Como eu podia deixa-lo? Sozinho, longe da mamãe. Será que ele ia achar que eu não voltaria pra ir buscá-lo? Será que ele ia ficar bem? Comer bem? Será que a berçarista canta pra ele enquanto troca a fralda? Ou dá um abraço gostoso depois do banho? Será que eu ia aguentar guardar em mim, o dia inteiro, todo amor que eu sinto por ele?
Me torturei com perguntas como essa por alguns minutos. Olhei pra minha cara no espelho e decidi que eu era foda, e que eu ia conseguir ser mãe e trabalhar fora, e eu não fui a primeira e nem serei a última. Me encaixei no scarpan de novo e fui decidida pra minha mesa entoando o mantra: "Eu sou foda e o Theo tá bem", "Eu sou foda e o Theo tá bem", "Eu sou foda e o Theo tá bem", "Eu sou foda e... Meu peito ta vazando"! Caralho! Droga! Molhou toda a blusa! Lancei moda no ambiente de trabalho, camisa de alfaiataria com uma rodela de leite em cada peito! Era o fim! Era o cúmulo da falta de glamour empresarial!Glórinha Kalil vomitaria sangue se me visse nesses trajes.
Corri pro ambulatório onde tem uma salinha de amamentação e passei os próximos 50 minutos tirando leite do peito. Voltei pra minha mesa humilhada, cheirando queijo e querendo mais ainda ir embora pra buscar meu bebê.
Revi meus colegas, minhas amigas, percebi que eu virei a consultora oficial para assuntos de gravidez/bebês e percebi que tem um monte de gente que gosta de ouvir as hitórias do Theo, ou pelo menos finge que gosta hehehehehe
Agora o melhor do meu primeiro dia de trabalho foi a hora que o theo me viu na porta da Escolinha, abriu um sorriso e se jogou no meu colo (Logo depois ele começou a tentar arrancar a minha blusa desesperadamente como se fosse a última chance de mamar da vidinha dele).
Ele chegou em casa sem faltar nenhum pedaço, limpinho, cheiroso, bem alimentado! A gente brincou, se curtiu e matou um pouquinho da saudade, porque o resto ele resolveu matar de madrugada, em suaves prestações, costume que obrigou a mamãe a se contentar com 4 horas de sono por noite.
Moral da história, voltar a trabalhar foi muito bom, o Theo fez amigos na escolinha e eu voltei pro mundo real, mas certas coisas nunca mais serão as mesmas na minha vida agora que meus peitos não me obedecem mais!