Marina é aquela que podia ser a sua melhor amiga, a sua prima querida ou até você mesma! Marina adora cabelos compridos, comprar sapatos, comer junkie food (sem engordar é lóoogico) e odeia injustiça. Marina tem medo de pombas, pois uma já acertou seu joelho num rasante mal sucedido. Ela queria ter ido fantasiada de sininho no carnaval do pré, mas sua prima mimada teve um ataque de fúria quando viu a fantasia, que inclui mergulhos no chão, puxões no próprio cabelo e por fim, vômito. E sua mãe deu a fantasia de sininho para a prima. Ela foi no carnaval da escolinha vestida de Peter Pan, e se escondeu como pôde quando as tias resolveram dar a ela o prêmio de consolação de melhor fantasia e alguém chamava pelo microfone o Marino. Marina fala “Arnaldo Antunes” e não “Antônio Nunes”. Tomou um porre, achou que era Iemanjá reencarnada e mergulhou no mar de salto alto e rímel. Engoliu quilos de areia. Ela namorou 5 longos anos e levou todas as amigas bêbadas sãs e salvas para casa.
Ela é daquelas amigas que poderia ir na sua casa fazer as suas unhas, daquelas que seriam sua madrinha de casamento, que cuidaria do seu filho pra você poder se depilar. Marina é uma menina legal pra cacete, e é daquelas pessoas que eu particularmente odeio ver se dando mal.
Acontece que tem gente (acredite se quiser) que não enxerga Marina assim, como qualquer um pode ver, tem gente que enxerga na Marina um útero.
Sim, um útero meus poucos (porém queridos e estimados) leitores! Pois Marina é saudável, jovem e bonita. E é um bom útero. E só. Pois era assim que um certo otário enxergava Marina. E foi assim que ele a tratou (muito disfarçadamente) durante 5 longos e ingratos anos.
Ele levava seu útero para passear, comprava presentes para o útero, fazia planos para o útero, dava carinho para o útero. Ele amava o útero, e não porque ele tivesse algum sentimento romântico por um órgão reprodutor comum a todo e qualquer ser humano do sexo feminino. Não minha gente, ele amava o útero porque dele sairiam herdeiros. E é só nisso que o nosso personagem Otário Patriarcalista pensa quando olha pro útero, nos pequeninos Patriarcalistasinhos que vão sair de lá um dia.
Para preservar seu amado Útero/ Marina, Otário decide que vai realizar toda e qualquer putaria e mau-caratismo com outras. E essas outras não são Útero, elas são só vaginas mesmo. E, portanto, não tem a capacidade de dar ao nosso caro Otário os herdeiros que ele tanto espera ter um dia. As outras Vaginas são só pra se divertir mesmo.
E nosso personagem Otário Patriarcalista achou até interessante a idéia de se separar de Marina. Afinal de contas ele teria seu útero de volta a qualquer momento, era só avisá-lo de que ele estava pronto para casar e ter filhos com o Útero. Ele sabia, o Útero estava caidinho por ele.
Acontece que o Otário, imbecil que é, não pensou que a Vagina da vez estaria atenta aos movimentos do Útero e pensaria, muito inocentemente, já que o Otário havia perdido seu Útero amado, era a vez dela ser o útero! Ela seria promovida de vagina a Útero!!! Mas suas esperanças caíram por terra quando Otário foi enfático ao dizer que para ele ela iria ser Vagina para todo o sempre Amém! E que ele iria aproveitar este tempo que estava sem seu Útero para fazer de boba tantas vaginas quantas ele quisesse, e então, quando o Útero estivesse morrendo de saudades eles se casariam e teriam os herdeiros.
Vagina porém tinha um celular! E um celular, caros Otários de plantão, é uma arma poderosa na mão de uma mulher (considere você esta mulher um útero ou uma Vagina). E Vagina tomou coragem e ligou para o Útero/ Marina contando todas as peripécias de Otário nos últimos 2 anos.
E ai minha gente, Marina mostrou para Otário que ela não só não é um Útero, mas que seu cérebro é órgão muito mais importante! Marcou com vagina de se encontrar em um shopping e levou Otário para lá, fingindo uma possível reconciliação. Assim que se sentaram na praça de alimentação Marina começou a relatar para Otário tudo o que descobrira através de Vagina, e assim que ele começou a tentar negar Vagina chegou e se sentou ao lado dele o deixando com cara de, como eu vou dizer, MUITO OTÁRIO!
Marina foi embora e deixou que Otário e Vagina se entendessem na praça do shopping. Saiu de cabeça erguida, balançando os longos cabelos negros ao vento do ar-condicionado e dando esperança a todas as mulheres que um dia foram tratadas como úteros ou vaginas. Pois ela é Marina, e ser Marina, meu caro Otário, é algo que você nunca vai saber o que é, pois nunca enxergou Marina, nunca sentiu Marina, nunca amou Marina.
E Vagina, que é na verdade Renata, talvez tenha começado a se ver também como Renata, já que ela mesma se enxergava apenas como vagina...
*Esse post foi escrito com consentimento de Marina, seu nome foi mudado para preservar sua identidade. Marina é mulher de coragem e sabe que não foi a primeira a ser vítima do estigma da Dupla Moral. Sim minha gente eu estudei questão de gênero na faculdade, na verdade eu fui pesquisadora-bolsista sobre o tema, e um dos conceitos mais bacanas/bizarros é esse. O homem machista latino-americano enxerga duas categorias de mulheres existentes: As Santas e as Putas; as Pra Casar e as pra Comer; As Úteros e as Vaginas. Reduzindo os seres complexos e maravilhosos que somos nós mulheres a esses estereótipos tão pequenos e limitados.
Pois Marina é Santa e Puta, pra Casar e Pra Comer, é Poesia e Prosa, Quente e Frio, é Mãe e Amante. Marina é tudo que ela quiser ser, pois é mulher e por isso é como a Lua, que a é a mesma mas tem várias Faces ( e fases).
Pois é Otário, perdeu Playboy!
Mil vivas à Vingança de Marina! Pelo fim da dupla moral na educação dos nossos meninos!